sexta-feira, 30 de abril de 2010

ENTREVISTA EXCLUSIVA: LUIS CARLOS BARBIERI


LUIS CARLOS BARBIERI Ganhou notoriedade com seu trabalho no Duo Barbieri-Schneiter, com o qual realizou, por 14 anos, concertos nas principais Salas do Brasil, além da Argentina, México, Itália, Áustria, Suíça e Portugal. Com o Duo gravou 3 CDs no Santuário Ecológico do Caraça (MG) lançados pela Rob Digital. A carreira do Duo foi interrompida com a morte prematura de Fred Schneiter, em 2001. Gravou, em 2002, o CD “Barbieri& Schneiter solo”, totalmente voltado para suas composições e as de Fred Schneiter. Participou como solista da trilha sonora do filme “O Outro lado da Rua”, de Marcos Bernstein (2004). Em 2006 gravou seu segundo CD solo intitulado “Violão Urbano” dedicado especialmente às obras de compositores brasileiros. Em 2003 sua música “Prelúdio e Dança nº 1” foi editada pela Edizioni Carrara (Itália) e lançada na Europa. Coordenou vários projetos musicais, tais como: “Classique 91” (Aliança Francesa/RJ), “O Violão na Sala” / 92, 93 e 94 (Sala Cecília Meireles/RJ), “Violonistas Compositores” / 95 (Espaço Cultural Sérgio Porto/RJ) e o “I Circuito Violão Real”/ 2004 (Cidades Históricas entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais). Coordena, desde 2004, a Mostra e Concurso Nacional de Violão Fred Schneiter, que está em sua 5º edição e é considerado um dos mais importantes Concursos de Violão do Brasil. Foi Diretor da AV-Rio (Associação de Violão do Rio) de 2001 a 2007, ano em que atuou como Presidente da Associação. Foi Professor Substituto do Curso de Graduação em Violão da Escola de Música da UFRJ de 2006 a 2007. Como destaques internacionais Barbieri realizou concertos no “Festival de Guitare de Lausanne” (Suíça/2002), nas “Jornadas Internacionales de debate sobre la Guitarra”, em Valencia (Espanha/2003), na Eglise de Camélas, Perpignan (França/2003), no“3º Festival Internacional Eduardo Fabini”, em Montevideo (Uruguai/2003), no Encuentro Internacional de Guitarras Homenage a Agustín Barrios, em Asuncion e San Juan Bautista (Paraguay/2006) e no 8º Festival Internacional Eduardo Fabini (Uruguai/2007) onde atuou como concertista, palestrante, professor e membro do júri. Em dezembro de 2005 realizou uma série de concertos na Espanha, Portugal e França. Recentemente apresentou-se no XX FESTIVAL INTERNACIONAL DE GUITARRA DO ICPNA, em Lima (Perú)*.

ENTREVISTA

- Conte um pouco sobre como foram seus primeiros contatos com o violão. Com que idade você começou a estudar?

R: COMECEI A TOCAR VIOLÃO AOS 11 ANOS DE IDADE. APRENDI COM MEU IRMÃO QUE APRENDIA COM UM PROFESSOR DE FLAUTA QUE NÃO SABIA MUITO DE VIOLÃO.
DEPOIS, AOS 15 ANOS TIVE MEU PRIMEIRO PROFESSOR DE VIOLÃO: ARY DOMINGUES QUE ENSINOU A SERIEDADE DE ESTUDO E ME INDICOU, DEPOIS DE QUASE DOIS ANOS, O SÉRGIO ASSAD, COM QUEM ESTUDEI 5 ANOS, DOS 17 AOS 22 ANOS.

- Quem te influenciava no início?

R: OUVIA MUITO O QUE MEU IRMÃO OUVIA: MILTON NASCIMENTO (E O VIOLÃO DO TONINHO HORTA ME ENCANTAVA), CHICO BUARQUE, CAETANO VELOSO, GILBERTO GIL E ETC. POR SORTE MEU IRMÃO SEMPRE TEVE MUITO BOM GOSTO MUSICAL E EU IA NO EMBALO.

- Em que momento de sua vida você conheceu Fred Schneiter? Como surgiu o duo Barbieri-Schneiter?

R: NOS CONHECEMOS POR UM AMIGO EM COMUM, O FRANCISCO DIAS DA CRUZ, QUE TAMBÉM ERA VIOLONISTA.
DEPOIS TOCAMOS JUNTOS NA ORQUESTRA DE VIOLÕES DO TURÍBIO, COM QUEM EU ESTUDAVA NA UFRJ E O FRED NA UNIRIO, E NO QUARTETO CARIOCA DE VIOLÕES. ISSO LÁ POR 1985 1986.
O DUO NASCEU EM 1987 QUANDO DECIDIMOS NOS DEDICAR SOMENTE AO DUO, PARANDO COM OS CONCERTOS SOLO E ESTUDANDO DE SEGUNDA A SEGUNDA. AFINAL ESTAVAMOS COM 25 E 29 ANOS E NÃO TINHAMOS MAIS TEMPO A PERDER.

- Em relação à música instrumental erudita, aconteceram mudanças importantes nos últimos anos? E em relação à música de concerto pra violão? 

R: MUDANÇAS SEMPRE ACONTECEM. A MÚSICA ERUDITA, POR MAIS RESISTENTE QUE SEJA A MUDANÇAS, QUEIRA OU NÃO RECEBE INFLUENCIAS DA NOVA GERAÇÃO QUE VEM NATURALMENTE OCUPAR OS ESPAÇOS E COMEÇAR A DEIXAR SUA MARCA E SUAS CARACTERÍSTICAS.
ACHO QUE HOJE TEMOS MAIS ABERTURA E UM CANAL MAIS ABERTO COM A MÚSICA POPULAR.
NÃO GOSTO DO "POPULISMO" NA MÚSICA DE CONCERTO, COMO POR EXEMPLO USAR UMA ORQUESTRA PARA TOCAR SAMBA SÓ PARA SE APROXIMAR DO PÚBLICO, MAS ACHO QUE AS ORQUESTRAS ESTÃO MAIS PRÓXIMAS DO PÚBLICO EM GERAL. ESTE É UM PROCESSO LENTO E QUE, PELO MENOS, JÁ COMEÇOU A SE MOVIMENTAR.
O VIOLÃO É QUE, SE JÁ ESTAVA EM ALTA, AGORA SUPERA EM MUITO QUALQUER BOA EXPECTATIVA.
CADA VEZ MAIS TEMOS GRANDES NOMES EM VÁRIAS VERTENTES, DESDE O CLÁSSICO, ATÉ O VIOLÃO POPULAR.
É IMPRESSIONANTE O NÚMERO DE JOVENS VIOLONISTAS E A QUALIDADE DO TRABALHO DELES.
A MINHA GERAÇÃO CONSEGUIU CONSOLIDAR SEU TRABALHO E OCUPOU AINDA MAIS FRENTES QUE AS GERAÇÕES PASSADAS.
A PRÓXIMA GERAÇÃO, SEM DÚVIDAS VAI TAMBÉM SUPERAR ESTA MARCA.
CADA VEZ MAIS TEMOS MAIS PROFESSORES DE VIOLÃO EM MAIS UNIVERSIDADES.
EM SE TRATANDO DE DUO, TEMOS HOJE O SIQUEIRA LIMA, O BRAZILIAN GUITAR DUO, QUE JÁ SÃO REALIDADES INTERNACIONAIS E O JOVEM DUO MAIA, AQUI DO RIO.

- Além da apresentação e produção do programa "Violões em foco" na rádio MEC às quartas, 22h, conte o que mais tem feito.

R:ESTE ANO DECIDI QUE IRIA LANÇAR O CD DE MÚSICAS MINHAS E DO FRED QUE ESTAVA ENGAVETADO HÁ 8 ANOS. VAIS SER LANÇADO EM MAIO. EM OUTUBRO LANÇO OUTRO CD, QUE GRAVEI HÁ 5 ANOS, COM MÚSICAS MINHAS E DO FRED, ALÉM DE MARCO PEREIRA, EDINO KRIEGER E GAROTO. EM OUTUBRO, GRAVO O TERCEIRO, COM MIGNONE, RADAMES, MARCOS LOPES, MINHAS MÚSICAS E AS DO FRED.
A MOSTRA FRED SCHNEITER ACONTECE EM OUTUBRO, MAS PASSO O ANO FAZENDO CONTATOS E PREPARANDO TUDO, UMA VEZ QUE LEVA TEMPO PARA CONSEGUIR DINHEIRO PARA TUDO.
MENSALMENTE TEM O PROJETO CAFÉ CONCERTO, EM BENTO RIBEIRO, QUE PROVAVELMENTE É A PRIMEIRA SÉRIE REGULAR DE MÚSICA CLÁSSICA DO BAIRRO. ESTE ANO A PROPOSTA É AMPLIAR A PROGRAMAÇÃO PARA OUTROS INSTRUMENTOS E A ABERTURA FOI REALIZADA PELO DUO SANTORO DE VIOLONCELOS.
A SÉRIE ACONTECE NO CENTRO ESPÍRITA ISRAELS BARCELOS, ONDE HÁ 3 ANOS ESTUDO AS OBRAS BÁSICAS DO ESPIRITISMO ESCRITAS POR ALAN KARDEC.
ANO PASSADO COMECEI A DAR AULAS NA ESCOLA ALEMÃ CORCOVADO, NO HUMAITÁ, E COMECEI ENTÃO A ESTUDAR ALEMÃO O QUE ESTÁ ME ANIMANDO MUITO.
ESTE ANO COMECEI, FINALMENTE, MEU MESTRADO EM MUSICOLOGIA NA UFRJ, ONDE SOU ORIENTADO PELA VIOLONISTA MÁRCIA TABORDA. O TEMA, NATURALMENTE, TEM A VER COM O FRED E É A CATALOGAÇÃO DE SUA OBRA.

- Conte um pouco sobre o seu cd solo.

R: O CD FOI GRAVADO EM 2002 E TEM COMO REPERTÓRIO MINHAS MÚSICAS E AS DO FRED, DAI O NOME "BARBIERI & SCHNEITER - SOLO".
TINHA COMO PROJETO PARALELO AO DUO GRAVAR UM CD COM NOSSAS OBRAS PARA VIOLÃO SOLO.
QUANDO O FRED FALECEU ESTE PASSOU A SER MEU PROJETO PRINCIPAL.
POR ALGUM TEMPO MEUS PROGRAMAS DE CONCERTO SOMENTE TINHAM NOSSAS MÚSICAS.
O LANÇAMENTO SERÁ DIA 29 DE MAIO, ÀS 17 HORAS, NO CENTRO CULTURAL JUSTIÇA FEDERAL, NA AV. RIO BANCO, NO RIO.
A SALA É BELÍSSIMA E TEM UMA DAS MELHORES ACÚSTICAS DO BRASIL.
É PERFEITA PRA VIOLÃO.
APAREÇAM PARA CONFERIR.

*Texto de apresentação retirado de http://www.myspace.com/luiscbarbieri


quarta-feira, 28 de abril de 2010

Pavor nos bastidores: verdade, desejo e mentira (Iª parte) Slavoj Žižek



PAVOR NOS BASTIDORES: VERDADE, DESEJO E MENTIRA (Iª parte)[*]
Slavoj Žižek
Tradução: Rodrigo Nunes Lopes Pereira

            Esta obra menor, que sucede o fracasso comercial de Sob o Signo de Capricórnio é, sobretudo, conhecida pelo flashback inicial que acompanha o relato de Jonathan a Eve. Compreenderemos mais tarde que seu relato era mentiroso, que Jonathan havia forjado essa história para se justificar. Ora, nesta ocasião, suspeitava-se que Hitchcock queria violar a sacrossanta regra do cinema “realista”, aquela segundo a qual a imagem fílmica não deve mentir nunca (salvo tratar-se expressamente de mostrar um sonho ou uma miragem). Mas através de uma análise minuciosa do filme, seus ardentes defensores foram bem sucedidos em provar que as imagens do flashback não mentiam. Tudo o que se vê efetivamente se produziu: Charlotte na soleira da porta do apartamento de Jonathan com seu vestido ensanguentado, Jonthan que entra no apartamento de Eve para pegar outro vestido, tudo isso é verdade, stricto sensu, a única mentira se encontrava no comentário que Jonathan faz dessas imagens. Não há propriamente fala sem esse fundo de silêncio.
            Assim, para retomar o “argumento do caldeirão” freudiano – apresentar argumentos contraditórios –, este não é o único flashback mentiroso em Hitchcock. Um outro, igualmente mentiroso, acompanha o depoimento de Ann Baxter diante do juiz de instrução no filme A tortura do silêncio. Ela narra a maneira como conheceu o padre Logan, antes que este se tornasse padre. Embora seu depoimento não o mencione propriamente, sugere que eles tiveram relações sexuais quando dessa famosa noite de tempestade que os obrigou a permanecer fora. Mais tarde, Logan desmentirá formalmente o fato de que tenham sido amantes.
            Os críticos que tiveram como principal reclamação contra esse flashback seu sentimentalismo excessivo e simplório, revelam-se incapazes para apreender sua verdadeira natureza: não se trata, de maneira alguma, de um relato “objetivo” sobre o passado, mas da versão de sua ex-noiva, colorida pelo desejo de Logan. Umas vez mais, Hitchcock nos faz seus bobos: nós imaginamos que eles se amam, pois tal é nosso desejo, idêntico aí ao da narradora do flashback. Esse engôdo será para nós muito instrutivo: a falsificação do “estado de coisas” desvela a verdade do desejo da histérica, enquanto que, para o obsessivo, o desconhecimento da verdade sobre seu desejo toma, via de regra, a forma de “dizer o que se passou realmente”. A histérica, mentindo, diz a verdade; o obsessivo, dizendo a verdade, mente.
            Recordemos, a esse respeito, a resposta que Hitchcock deu à pergunta feita por Peter Bogdanovich sobre se eles, de fato, teriam dormido juntos àquela noite: “Assim espero. Ainda que, sendo eu um jesuíta, não encorage essa maneira de agir”. A contradição flagrante de sua resposta tem o mérito de deslocar a questão para o terreno do desejo e de sua interdição, isto é, para o plano da divisão do sujeito enquanto sujeito desejante: a mentira que diz a verdade sobre o desejo é para o sujeito uma das maneiras de suportar sua divisão.  
           


[*] Stage Fright (1950). Richard Todd, perseguido pela polícia, entra no carro de Jane Wyman, que sai a toda velocidade. Ela lhe pergunta o que aconteceu, e ele lhe conta. Ele estava em sua casa quando subitamente apareceu Marlène Dietrich, em pânico, com seu vestido branco manchado de sangue, para lhe dizer o que acaba de acontecer: ela matou seu marido, e veio pedir a Todd para lhe ajudar a suprimir uma prova. Ele aceita e, tendo aparecido nos lugares relacionados ao crime, teme ser considerado suspeito. Nós ficamos sabendo que Todd mentiu para Marlène Dietrich, para Jane Wyman e para a polícia, e que ele é o assassino.


Fonte: ŽIŽEK, Slavoj. “Le Grand alibi: vérité, désir et mensonge” IN: DOLAR, Mladen, MOCNIK, Rastko, SUMIC-RIHA, Jelica, VRDLOUEC, Zdenko. Sous la direction de ŽIŽEK, Slavoj. Tout ce que vous avez toujours voulu savoir sur Lacan sans jamais oser le demander à Hitchcock. Narvin Éditeur, Paris, 1988.